quinta-feira, 5 de junho de 2014

Palavras do Papa Francisco

Quando falamos de meio ambiente, da criação, vêm ao meu pensamento as primeiras páginas da Bíblia, ao Livro do Génesis, onde se afirma que Deus colocou o homem e a mulher na terra, para que a cultivassem e conservassem (cf. 2, 15). E em mim surgem estas perguntas: O que quer dizer cultivar e conservar a terra? Estamos verdadeiramente a cultivar e a conservar a criação? Ou estamos a explorá-la e a descuidá-la? O verbo «cultivar» faz vir à minha mente o cuidado que o agricultor tem pela sua terra, a fim de que produza fruto e este seja compartilhado: quanta atenção, paixão e dedicação! Cultivar e conservar a criação é uma indicação de Deus, dada não só no início da história, mas a cada um de nós; faz parte do seu desígnio; significa fazer com que o mundo se desenvolva com responsabilidade, transformá-lo para que seja um jardim, um lugar habitável para todos.
Mas o «cultivar e conservar» não abrange apenas a relação entre nós e o meio ambiente, entre o homem e a criação, mas refere-se inclusive aos relacionamentos humanos.
A pessoa humana está em perigo: isto é certo, hoje a pessoa humana está em perigo, eis a urgência da ecologia humana! E o perigo é grave, porque a causa do problema não é superficial, mas profunda: não é só uma questão de economia, mas de ética e de antropologia.
O que manda hoje não é o homem, mas o dinheiro, é o dinheiro que manda! E Deus, nosso Pai, confiou a tarefa de conservar a terra não o dinheiro, mas a nós: aos homens e às mulheres; somos nós que temos esta tarefa! No entanto, homens e mulheres são sacrificados aos ídolos do lucro e do consumo: é a «cultura do descarte». Se um computador se quebra é uma tragédia, mas a pobreza, as necessidades e os dramas de numerosas pessoas acabam por ser normal. Se numa noite de inverno, aqui perto na rua Ottaviano, por exemplo, uma pessoa morre, isto não é notícia. Se em muitas regiões do mundo há crianças que não têm do que comer, isto não é notícia, parece normal. Não pode ser assim! E no entanto estas situações entram na normalidade: que algumas pessoas desabrigadas morram de frio na rua, isto não é notícia. Ao contrário, a diminuição de dez pontos na bolsa de valores de algumas cidades constitui uma tragédia. Alguém que morre não é notícia, mas se a bolsa de valores diminui dez pontos é uma tragédia! Assim as pessoas são descartadas, como se fossem lixo.
Esta cultura do descarte tornou-nos insensíveis também aos desperdícios e aos restos alimentares, que são ainda mais repreensíveis quando em todas as partes do mundo, infelizmente, muitas pessoas e famílias sofrem devido à fome e à subalimentação. Outrora, os nossos avós prestavam muita atenção a não descartar nada da comida que sobejava. O consumismo induziu-nos a habituar-nos ao supérfluo e ao esbanjamento quotidiano de alimentos, aos quais às vezes já não somos capazes de atribuir o justo valor, que vai além dos meros parâmetros económicos. Mas recordemos bem que a comida que se descarta é como se fosse roubada da mesa de quem é pobre, de quantos têm fome!
Ecologia humana e ecologia ambiental caminham juntas.
Por isso, gostaria que todos nós assumíssemos seriamente o compromisso de respeitar e conservar a criação, de prestar atenção a cada pessoa, de contrastar a cultura do desperdício e do descarte, a fim de promover uma cultura da solidariedade e do encontro.
(Papa Francisco – Audiência Geral de 05/06/2013 –Dia do Meio Ambiente)

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Homem Primata

Desde os primórdios
Até hoje em dia
O homem ainda faz
O que o macaco fazia
Eu não trabalhava
Eu não sabia
Que o homem criava
E também destruía

Homem Primata
Capitalismo Selvagem
Ô!Ô!Ô!
Homem Primata
Capitalismo Selvagem
Ô!Ô!Ô!

Eu aprendi
A vida é um jogo
Cada um por si
E Deus contra todos
Você vai morrer
E não vai pro céu
É bom aprender
A vida é cruel

Homem Primata
Capitalismo Selvagem
Ô!Ô!Ô!
Homem Primata
Capitalismo Selvagem
Ô!Ô!Ô!


Criação


“E Deus disse” (Gn. 1, 3. 9. 14. 20. 24. 26)
fecho à boca
a palavra:
trituro as sílabas
mastigo as consoantes
engulo as vogais
e, não podendo mais
gesto um poema
pelo útero divino:
a mesma boca

Por Irmão José Heber Souza, FSC.
Publicado em Canoas: Tróis Editor. Cadernos Canoenses. Suplemento 201, ano 16, Setembro de 2009, p.05

domingo, 1 de junho de 2014

Criacionismo


Criacionismo, uma teoria com diferentes versões!

A questão sobre as origens do homem remete a um amplo debate, no qual filosofia, religião e ciência entram em cena para construir diferentes concepções sobre a existência da vida humana e, implicitamente, por que somos o único espécime dotado de características que nos diferenciam do restante dos animais.
Desde as primeiras manifestações mítico-religiosas o homem busca resposta para essa questão. Nesse âmbito, a teoria criacionista é a que tem maior aceitação. Ao mesmo tempo, ao contrário do que muitos pensam, as diferentes religiões do mundo elaboraram uma versão própria da teoria criacionista.
A mitologia grega atribui a origem do homem ao feito dos titãs Epimeteu e Prometeu. Epimeteu teria criado os homens sem vida, imperfeitos e feitos a partir de um molde de barro. Por compaixão, seu irmão Prometeu resolveu roubar o fogo do deus Vulcano para dar vida à raça humana. Já a mitologia chinesa atribui a criação da raça humana à solidão da deusa Nu Wa, que ao perceber sua sombra sob as ondas de um rio, resolveu criar seres à sua semelhança.
O cristianismo adota a Bíblia como fonte explicativa sobre a criação do homem. Segundo a narrativa bíblica, o homem foi concebido depois que Deus criou céus e terra. Também feito a partir do barro, o homem teria ganhado vida quando Deus assoprou o fôlego da vida em suas narinas. Outras religiões contemporâneas e antigas formulam outras explicações, sendo que algumas chegam a ter pontos de explicação bastante semelhantes.
Sendo um tema polêmico e inacabado, a origem do homem ainda será uma delicada questão capaz de se desdobrar em outros debates. Dessa forma, cabe a cada um julgar e adotar, por meio de critérios pessoais, a corrente explicativa que lhe parece mais plausível.
Autor: Rainer Sousa



quinta-feira, 29 de maio de 2014

O Ser Humano!


O ser humano: porção consciente e inteligente da Terra
25/05/2014
LEONARDO BOFF
O ser humano consciente não deve ser considerado à parte do processo da evolução. Ele representa um momento especialíssimo da complexidade das energias, das informações e da matéria da Mãe Terra. Cosmólogos nos dizem que atingindo certo nível de conexões a ponto de criarem uma espécie de um uníssono de vibrações, a Terra faz irromper a consciência e com ela a inteligência, a sensibilidade e a capacidade do amor.
O ser humano é aquela porção da Mãe Terra que, ao alcançar certo nivel de complexidade, começou a sentir, a pensar, a amar, a cuidar e a venerar. Nasceu, então, o ser mais complexo que conhecemos: o homo sapiens sapiens. Por isso, segundo mito antigo do cuidado, de húmus (terra fecunda) se derivou homo/homem e de adamah, em hebraico (terra fértil) se originou Adam- Adão (o filho e a filha da Terra).
Em outras palavras, nós não estamos fora nem acima da Terra viva. Somos parte dela, junto com os demais seres que ela também gerou. Não podemos viver sem a Terra, embora ela possa continuar sua trajetória sem nós.
Por causa da consciência e da inteligência somos seres com uma característica especial: a nós foi confiada a guarda e o cuidado da Casa Comum. Melhor ainda: a nós cabe viver e continuamente refazer o contrato natural entre Terra e Humanidade pois é de sua observância que se garantirá a sustentabilidade do todo.
Essa mutualidade Terra-Humanidade é melhor assegurada se articularmos a razão intelectual, instrumental-analítica, com a razão sensível e cordial. Damo-nos conta mais e mais de que somos seres impregnados de afeto e de capacidade de sentir, de afetar e de ser afetados. Tal dimensão possui uma história de milhões de anos, desde quando surgiu a vida há 3,8 bilhões de anos. Dela nascem as paixões, os sonhos e as utopias que movem os seres humanos para a ação. Esta dimensão, também chamada de inteligência emocional foi recalcada na modernidade em nome de uma pretensa objetividade da análise racional. Hoje sabemos que todos os conceitos, idéias e visões do mundo vem impregnados de afeto e de sensibilidade (M. Maffesoli, Elogio da razão sensível, Petrópolis 1998). Se assim não fosse não seria humana, mas algo maquínico.
A inclusão consciente e indispensável da inteligência emocional na razão intelectual nos motiva mais facilmente ao cuidado e ao respeito da Mãe Terra e da  multiplicidade de seus seres.
Junto a esta inteligência intelectual e emocional existe no ser humano também a inteligênciaespiritual . Ela não é um dado apenas do ser humano, mas segundo renomados cosmólogos, uma das domensões do universo. O espírito e a consciência têm o seu lugar dentro do processo cosmogênico. Podemos dizer que eles estão primeiro no universo e depois na Terra e no ser humano. A distinção entre o espírito da Terra e do universo e nosso espírito não é de princípio mas de grau.
Este espírito está em ação desde o primeiríssimo momento após o big bang. Ele é aquela capacidade que o universo, mediante suas partículas e energias,mostra  de fazer de todas as relações e interdependências uma unidade sinfônica. Sua obra é realizar aquilo que alguns físicos quânticos (Zohar, Swimme e outros) chamam de holismo relacional: articular todos os fatores, fazer convergir todas as energias, coordenar todas as informações e todos os impulsos para cima e para frente de forma que se forme um Todo e o cosmos apareça de fato como cosmos (algo ordenado) e não simplesmente a justaposição de entidades ou o caos.
É neste sentido que não poucos cientistas (A. Goswami, D. Bohm, B. Swimme, Bateson e outros) falam do universo autoconsciente e de um propósito que é perseguido pelo conjuntos das energias em ação. Não há como negar esse percurso: das energias primordiais passamos à matéria, da matéria à complexidade, da complexidade à vida e da vida à consciência, da consciência à autoconsciência individual e da autoconsciência individual  à autoconsciênica coletiva, aqulo que Teilhard de Chardin chamava de  à noosfera pela qual nos sentimos uma mente coletiva.
Todos os seres participam de alguma forma do espírito, por mais “inertes” que se nos apresentem, como uma montanha ou um rochedo. Eles também estão envolvidos numa incontável rede de relações por todos os lados,   relações estas que são a manifestação do espírito. Formalizando poderíamos dizer: o espírito em nós é aquele momento da consciência em que ela sabe de si mesma, se sente parte de um todo maior e percebe que um Elo misterioroso liga e re-liga todos os seres, fazendo que haja um cosmos e não um caos.
Esta compreensão desperta em nós um sentimento de pertença a este Todo, de parentesco com os demais seres da criação, de apreço por seu valor intrínseco pelo simples fato de existirem e revelarem algo do mistério do universo. Viver é extasiar-se e encher-se de veneração e respeito.
Ao falarmos de sustentabilidade em seu sentido mais global, precisamos incorporar este momento de espiritualidade cósmica, terrenal e humana, para ser completa, integral e potenciar sua força de sustentação.
Leonardo Boff é autor de Ecologia: grito da Terra-grito dos pobre:. Dignidde e direitos da Mãe Terra, a sair pela Vozes 2014.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Interessante!

A origem do ser humano sempre foi um enigma a ser desvelado, veja a distinção entre criacionismo e evolucionismo

“O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro" (Mario Quintana)

Criação e evolução

O criacionismo e o evolucionismo são duas propostas contraditórias que dizem respeito à ocorrência temporal de um fenômeno: a origem do homem. A primeira, criacionista radical, adotada pela teologia judaico-cristã, foi expressa com surpreendente precisão pelo bispo anglicano de Armagh, Usher, no final do século XVII, que decidiu, baseado em textos bíblicos, que o mundo tinha sido criado precisamente no ano 4004 AC, juntamente com todas as espécies tal como existem atualmente. A segunda, o evolucionismo, adotada pela ciência, propõe que o universo surgiu há cerca de mais ou menos 13 bilhões de anos atrás, a vida em nosso planeta, com suas formas mais primitivas de organismos unicelulares, há cerca de 3.5 bilhões de anos.

Desde então, até a atualidade, através de inumeráveis transformações e algumas extinções em massa, chegamos a cerca de 30 milhões de espécies de seres vivos, apesar de, até o momento, apenas 1.5 milhão terem sido descritas. Mais impressionante que este número de espécies existentes, é que estes 30 milhões de espécies atualmente existentes representam apenas cerca de 0.1% das espécies que existiram na Terra. Isto significa que cerca de 99.9% de todas as espécies que habitaram o globo foram extintas.

Apoiando o criacionismo radical está a fé religiosa que é baseada nos textos bíblicos. O evolucionismo é apoiado em evidências cosmológicas, geológicas, arqueológicas e antropológicas. Sua negação envolve a recusa em aceitar uma boa parte das ciências naturais, principalmente as descrições da história do planeta e da vida.

Quanto à origem das espécies e do homem em particular, todos os processos de avaliação da idade dos fósseis tanto animais como do próprio homem e de seus precursores mais imediatos apontam números totalmente incompatíveis com os fixados pelos textos religiosos.

O quadro da evolução biológica da transformação das espécies por geração de variedade e seleção por aptidão à sobrevivência, inaugurada por Darwin, apresenta alguns pontos obscuros ou ainda não totalmente absorvidos pela teoria da evolução, mas é geralmente aceito em suas linhas gerais pela totalidade dos cientistas.

Na tentativa de amenizar o hiato entre o tempo da criação bíblica e a imagem fornecida pela ciência, o criacionismo compreende atualmente uma certa variedade de crenças deslizando desde a interpretação literal da Bíblia até um criacionismo progressivo, criacionismo contínuo, evolucionismo teista, etc.

O anti-evolucionismno é mais ativo entre grupos do sul dos Estados Unidos. Henry M.Morris antigo professor universitário e um grupo de criacionista organizaram em 1963 a 'Sociedade para a Investigação da Criação'. Em 1972 fundou o Creation Research uma instituição privada não lucrativa cujo objetivo original é publicar literatura criacionista e fazer campanha nas escolas públicas a favor das interpretações bíblicas da origem do homem. Este movimento está ligado a grupos religiosos e politicamente se situa entre os mais conservadores.

Não acreditamos que, do ponto de vista da ciência, o criacionismo mereça mais do que uma breve menção não sendo suas razões capazes de abalar o edifício das crenças científicas e das evidências a favor do evolucionismo. A teoria evolucionista naturaliza o homem fazendo-o parte imanente e contingente de um processo mais amplo e global. O criacionismo lhe atribui uma origem transcendental e necessária através do sopro da vontade divina. Assim o evolucionismo explica a origem do homem de "baixo para cima" a partir de formas menos complexas e o criacionismo de "cima para baixo" através do ato divino.

Esta polêmica, a nosso ver anacrônica do ponto de vista da ciência adquire, não obstante, uma coloração específica e atual quando transportada para a origem da vida social, dos valores e da ética das sociedades humanas. A ética, em geral tem sido definida como a ciência da conduta. Como tal, sua natureza foi atribuída a normas religiosas reveladas, na especulação filosófica, à razão prática, sendo reservada à ciência positiva a sua descrição empírica nas diversas sociedades. Em contraposição à sua origem de "cima para baixo" dois autores, entre outros, Nietzsche e Freud, justificaram, cada um a seu modo, a naturalização da ética, postularando a sua "genealogia" de "baixo para cima".

Ora atualmente um movimento científico a sociobiologia que é uma disciplina que consiste no estudo científico da base biológica de todas as formas de comportamento social em todos os tipos de organismos, inclusive o homem" recoloca a antiga polêmica em outros termos. Na disputa secular entre a natureza e a cultura (Nature or Culture) como agentes determinantes do comportamento social, disputa esta muitas vezes exacerbada por matizes ideológicos, a sociobiologia pende para uma posição definida: a própria organização social dos seres humanos seria uma conseqüência das pressões dos mecanismos darwinianos de seleção natural. Tal como os insetos e muitos animais o comportamento social do homem teria sido, originalmente, sua resposta evolutiva às pressões existentes no nicho ecológico em que atua.

Eis que, novamente se tenta naturalizar setores tradicionalmente geridos pelo saber filosófico ou religioso. Serão então nossos mais caros valores, como o altruísmo, e a solidariedade não atributos exclusivos da espécie humana, mas compartilhado por outras espécies?

O altruísmo, por exemplo, que considera, como o fim da conduta humana, o interesse do próximo e se resume nos imperativos: "Viva para outrem", ou "Ama o próximo mais que a ti mesmo", sempre desafiou uma explicação "naturalista". O próprio termo altruísmo tem ocorrido mais freqüentemente nos textos religiosos ou literários do que nos discursos das ciências humanas. Valorizado em diversas religiões, chega a atribuir uma aura de santidade a seus portadores infatigáveis.

Nas últimas décadas, no entanto, o altruísmo tem tido duas entradas no campo das ciências do comportamento: a primeira se refere a estudos de etologia e comportamento animal; a segunda a uma situação típica, quase um paralogismo, referente a uma situação descrita pela teoria de jogos e denominada de Dilema do prisioneiro.

Isaac Epstein
Referência:
http://www.comciencia.br/200407/reportagens/15.shtml